Texto e fotos: Gustavo do Carmo
O francês Citroën 2CV tem uma história muito parecida com a do Fusca: possuía desenho incomum, surgiu como protótipo nos anos 30, só chegou ao mercado depois da Segunda Guerra Mundial, durou décadas e se tornou ícone.

Foi projetado para ser um veículo pequeno, barato, confortável, seguro, econômico, robusto, com boa capacidade de carga e conseguir carregar uma dúzia de ovos sem quebrá-los ao passar em qualquer tipo de terreno (uma preocupação com o trabalhador rural). Necessidades de qualquer motorista e objetivo de qualquer montadora no pré-guerra.

Ainda batizado de TPV (Trés Petit Vehicule - veículo muito pequeno), o protótipo foi apresentado em 1934. Era um carro alto, com caída de teto arredondada, uma tampa do motor longa e bem no meio do capô ranhurado com quinas acentuadas, motor de dois cilindros refrigerado a ar (seria a água) com acionamento por manivela e, curiosamente, apenas um único farol no lado esquerdo. Ganhou o apelido de "o patinho feio". Durante o desenvolvimento teve dois graves problemas: o primeiro foi a morte do fundador da marca, André Citroën, no ano seguinte, aos 57 anos. O outro foi a eclosão da Segunda Guerra Mundial, em 1939, que levou a Citroën a destruir todos os protótipos para evitar a espionagem alemã.

Todos não. Sobraram quatro, que serviram de base para o aprimoramento do projeto que chegou à versão definitiva em 1948, três anos depois do fim da guerra. As linhas da carroceria foram suavizadas. As quinas ficaram mais arredondadas, com o capô quase se integrando ao para-lamas. A grade com o emblema da marca, a dupla engrenagem, ficou com melhor aspecto. Os faróis passaram a ser dois redondos, montados sobre o para-lamas. O motor permaneceu refrigerado a ar, com dois cilindros e 375 cm³ com potência de apenas 9 cavalos. Mas a partida passou a ser elétrica.

Seu estilo peculiar foi marcado também pelas janelas planas e de desenho arqueado, o vidro-vigia na lateral posterior, as portas dianteiras suicidas e a tampa do porta-malas plana com o vidro bem quadrado. Para economizar foram adotados no interior um quadro de instrumentos com poucos mostradores (velocímetro, hodômetro e marcador do nível do tanque), volante de metal com dois braços, bancos dianteiros e traseiros de ferro com revestimento de lona, mesmo material que cobria o teto, o que gerou o apelido de guarda-chuva sobre rodas. Houve até quem o confundisse também com uma lata de sardinha e perguntasse se o abridor vinha de série ou era opcional. Outra curiosidade era o funcionamento do limpador de para-brisa acionado pelo cabo do velocímetro.
O nome surgiu da denominação da categoria de impostos cobrados pelo governo francês: 2 CV. O novo carro tinha 3,78 metros de comprimento, 1,48m de largura, 1,60m de altura e 2,40m de distância entre-eixos. Não era tão compacto como se imaginava, mas pesava apenas 490 kg.

O 2CV chegou ao mercado em 1949. No último trimestre daquele ano foram produzidas quase 1.000 unidades e já havia fila de três meses. O novo Citroën era um carro espaçoso e confortável. Fez sucesso não só entre os trabalhadores rurais, mas também os urbanos, como secretários, comerciantes, profissionais liberais e professores. Era muito visto na porta de bistrôs e universidades. Tornou-se um cartão postal de Paris.

Foi evoluindo em pequenos detalhes na carroceria, bancos, acabamento interno e mecânica até chegar ao fim de sua produção em Portugal, com um motor de 435 cm³ de 26 cavalos de potência, em 1990.