Texto: Gustavo do Carmo
Fotos: Divulgação

O Fiat Doblò nunca foi um carro bonito. Seu perfil alto e desengonçado sempre foi mais voltado para a forma do que para a beleza. E ainda tinha uma frente bem esquisita. O objetivo da multivan, lançada mundialmente em 2001, era oferecer mais espaço interno para passageiros e carga.

O utilitário chegou ao Brasil em 2002. Três anos depois, somente na Europa, ganhou uma nova dianteira, com faróis mais elegantes e grade mais simples. O atraso de quatro anos para este novo conjunto frontal chegar aqui deu mais uma mostra de que o nosso país perdeu o direito de produzir carros em sintonia com o exterior. Péssimo costume praticado pela maioria das fabricantes de veículos desde 2003.

Para piorar, em 2009, enquanto o coitado do brasileiro conhecia o requentado, quer dizer, repaginado Doblò, os europeus já tinham à disposição a sua segunda geração, mais moderna, arredondada, confortável, tecnológica e de aparência esportiva, desenhada por Giorgetto Giugiaro.

Os faróis ficaram ainda mais espichados, com duplos refletores tão brilhantes que criam a falsa impressão de que estão recortados, a grade ficou menor e o para-choque com mais apliques de plástico. A lateral ganhou vincos que, aliados à linha de cintura ascendente e ao recorte das janelas da versão de passageiros, sugerem mais dinamismo. O destaque da traseira, que ficou mais plana, é a pintura em preto fosco da parte inferior da tampa, dando a impressão de que é toda em vidro fumê. A versão Cargo continua com a tampa dividida verticalmente. As lanternas ficaram mais baixas, mas ainda alinhadas com a coluna. Eu não tinha reparado, mas li em algum lugar que o novo Doblò ficou parecido com o Kia Soul. E ficou mesmo.

Por dentro, um painel de desenho organizado, com revestimento colorido opcional, de acordo com o gosto do comprador. O Doblò continua oferecendo opção de cinco ou sete lugares e muitos porta-objetos. O porta-malas tem capacidade para até 790 litros, podendo chegar a 3.200 litros com os bancos rebatidos. O Cargo tem 4,2 m² de área e capacidade para até 1.000 kg.

A indignação diminui um pouco na motorização e nos equipamentos, pois os motores Multijet 1.3, 1.6 e 2.0, a gasolina e a diesel (em maioria), com potência variando entre 90 e 135 cavalos nunca seriam adotados aqui se o modelo novo viesse. Com certeza, seriam os E.TorQ 1.6 e 1.8 16v. Assim como o nosso exemplar dificilmente teria ar-condicionado digital, freios ABS com distribuição eletrônica de frenagem (EBD), controle de estabilidade, quatro airbags, piloto automático e muito menos o sistema de auxilio de saída em ladeira (Hill Holder) de série. Como opcionais até poderia ter, inclusive o câmbio automatizado Dualogic, que ainda não chegou no nosso jurássico atual.

Não é só o preconceito contra o Brasil por parte das montadoras estrangeiras que me revolta. Também fico p... da vida com a falta de interesse delas em sustentar um segmento ainda atraente. O Doblò chegou ao país para enfrentar os concorrentes Citroën Berlingo, Renault Kangoo e o furgão Peugeot Partner. As multivans fizeram sucesso na época e ainda são procuradas como alternativa à antiquada Kombi. Mas as outras marcas também estão na mesma situação do Doblò: lançaram apenas o face-lift como se fosse grande novidade enquanto na Europa já estão quase chegando à terceira geração.

O Doblò foi lançado para substituir o nosso Fiorino, que era exportado pra lá. Aqui, o furgão derivado do velho Uno ainda está vivo e no Velho Continente até o Fiorino foi atualizado. Então fica a pergunta: por que o bom brasileiro está pagando pelo pecado de uma minoria atrasada para perder o direito de ter carros modernos e atualizados?