TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO 


O tempo passa até para o Ford Mondeo, lançado no Brasil há 20 anos. Bem antes da data, já vi um todo sujo, enferrujado e com cano de descarga sacolejando com o carro em movimento.

Eu até já imaginava esta cena no futuro, mas, enfim, a realidade de carro velho chegou para um modelo que foi anunciado como o primeiro carro mundial da Ford e carregava a responsabilidade de recuperar e modernizar a imagem da filial brasileira da marca norte-americana, maltratada por oito anos de um casamento com a Volkswagen chamado Autolatina.

O Mondeo chegou aqui em 1995, ano em que acabou a parceria. Sedã médio-grande de desenho arredondado e em sintonia com o mercado europeu, foi importado da Bélgica para substituir o Versailles (também conhecido como clone do Santana).



Na Europa, o Mondeo foi lançado em 1993 para suceder o Sierra. A intenção era mesmo ser um carro mundial. Além de fabricado na nova fábrica belga de Genk, foi vendido nos Estados Unidos com o nome de Contour e também com a marca Mercury Mystique.

Ford Contour

Mercury Mystique

Voltando ao Brasil, chegou nas opções de carroceria sedã de quatro portas, liftback de cinco portas e perua (Station Wagon), também de quatro portas laterais, todas nas versões de acabamento CLX e GLX, ambas com motor Zetec de 16 válvulas, mas respectivamente 1.8 de 115 cavalos e 2.0 136cv.


Com ar condicionado, banco do motorista com regulagem de altura, direção hidráulica ajustável, vidros, travas e espelhos elétricos, desembaçador do vidro traseiro e retrovisores externos, air bag do motorista e cintos com pré-tensionadores desde a versão básica, além de bancos do motorista com ajuste elétrico e opcionais como câmbio automático, teto solar e rodas de alumínio na versão GLX, o Mondeo tinha um bom custo-benefício e preço compatível com os seus concorrentes nacionais na época, como o Chevrolet Vectra, o Fiat Tempra e até o Volkswagen Santana e gêmeo Ford Versailles, que acabou não resistindo muito no mercado. Concorria também com os importados Volkswagen Passat, Renault Laguna, Peugeot 405 e Citroën Xantia.



Além do estilo e do custo-benefício, o Mondeo também tinha ótimos acabamento, espaço interno e dirigibilidade. Desempenho (chegava aos 202 km/h, segundo a revista Quatro Rodas) e consumo (média de 10,92 km/l) eram satisfatórios. Seus pontos fracos eram o porta-malas de 369 litros (471 na perua) e a carroceria muito baixa. Como consequência disso o para-choque dianteiro sempre raspava em quebra-molas e rampas, chegando até a trincar ou mesmo se quebrar. A peça não era muito barata. Houve quem improvisasse um para-choque de outro carro, inclusive do Palio, como eu já vi no Mondeo de um ex-professor da minha faculdade.


Em 1997, o Mondeo chegou com profunda reestilização frontal e traseira. A estrutura da carroceria continuou a mesma. A grade passou a ser bem oval com contornos cromados. Era um modismo exagerado da Ford na época de querer remeter a identidade visual de todos os seus carros às formas do seu logotipo. Os faróis passaram a ser grandes e bem envolventes, assim como as lanternas traseiras do sedã. A tampa do porta-malas deste ficou mais arredondada. Por dentro o desenho básico do painel também foi mantido, mas os comandos e instrumentos foram atualizados. A perua, no entanto, só ganhou uma régua cromada na traseira, como o irmão de três volumes. Já o hatch, que ganhou lanternas parecidas com a do sedã, deixou de vir para o Brasil.






O custo-benefício se manteve, mas o motor da versão CLX aumentou de cilindrada, passando a 2.0. Porém, a potência do Zetec, também usado no GLX, caiu de 136 para 130 cavalos. Bom para o primeiro, ruim para o mais caro. Em 1999 chegou a versão Ghia, com motor V6 2.5 de 170 cavalos, esperado desde o lançamento quatro anos antes. Pena que só durou um ano em nosso mercado.


Em 2003 o Mondeo perdeu a competitividade que tinha no mercado ao ser totalmente reestilizado. Saía o conceito oval e entrava o New Edge. Tornou-se um carro maior, mais luxuoso e bem mais caro. Seu antigo segmento no mercado foi ocupado pelo Focus Sedan argentino. Veio apenas o sedã com motor Duratec 2.0 de 147 cavalos na versão Ghia. A SW ficou de fora desta vez.




Fotos: Reginaldo Manente (Ford)


Em 2006, a Ford viu que o Fusion, maior e fabricado no México, era mais rentável porque o Brasil tem acordo comercial com o país latino-americano, que o isentava de imposto de importação. De lá, já viera, entre 2001 e 2004, o Fiesta Sedan. Resultado: o belga e caro Mondeo saiu de cena no Brasil. Em vez da moderna terceira geração, com estilo Kinetic, a Ford do Brasil preferiu o conservador e quadrado Fusion.




Mas para a nossa felicidade, em 2012, o Mondeo voltou para o Brasil, embora disfarçado de Fusion. É que a Ford decidiu que a segunda geração do modelo norte-americano e a quarta do europeu teriam a mesma carroceria e o mesmo estilo agressivo com grade hexagonal e faróis finos, janelas laterais pontudas e lanternas horizontais. As linhas do novo Fusion ficaram até muito parecidas com as do Mondeo anterior, exclusivo dos europeus.



Só que o nosso, ainda fabricado no México e também exportado para os Estados Unidos, continuou com o nome Fusion, enquanto os europeus mantiveram a denominação Mondeo e as derivações liftback e perua, que a versão das Américas não tem.



Os motores do Fusion que vieram para o mercado brasileiro foram, em ordem de lançamento, o inédito motor Ecoboost 2.0 (com turbo e injeção direta com 235 cavalos, movido apenas a gasolina), o 2.5 Flex (bicombustível, com 167 e 175 cv) e a versão Hybrid (híbrida), com um Duratec 2.0 de 143 cv e outro elétrico, que combinam 190 cv. A tração pode ser integral ou dianteira.



A versão completa Titanium Plus, com motores Ecoboost e Hybrid, vêm equipadas com oito bolsas infláveis (frontais, dianteiras laterais, dianteiros de joelho e laterais de cortina), controles eletrônicos de estabilidade e tração, rodas de 18 pol com pneus 235/45, assistência elétrica de direção com compensação de vibrações e de torque, bancos de couro com ajuste elétrico nos dianteiros e memórias no do motorista, chave programável (que limita a velocidade e o volume do som), abertura das portas por código (os números ficam na coluna central e aparecem quando ela é tocada), freio de estacionamento elétrico, botão de partida, sistema de estacionamento automático, câmera de ré, comutador automático de facho dos faróis, piloto automático com controle de distância para o veículo da frente, auxiliar de manutenção na faixa, monitoramento de pontos cegos, assistência de partida em rampa, controlador de velocidade com alerta de colisão e acionamento dos freios, sistema de áudio Sync com tela LCD de 8 polegadas e comandos de voz em português do Brasil (para funções de áudio, ar-condicionado, navegador e telefone), duas telas coloridas de 4,2 pol configuráveis no quadro de instrumentos com abertura e fechamento global dos vidros e computador de bordo.


O Mondeo original cumpriu o seu papel e, como se esperava, restabeleceu a imagem da Ford após a mal-sucedida experiência com a Autolatina. Mesmo que não tenha assumido a liderança do mercado nacional, cometido alguns atrasos (na atualização do Focus) e lançado algumas carroças (como a segunda geração local do Ka), a Ford trouxe outros modelos globais (como o Focus, o Fiesta, o Ka e a picape Ranger), construiu a nova fábrica de Camaçari, na Bahia, e desbravou o mercado de utilitários compactos com o Ecosport, que se tornou mundial. E a terceira geração do Ka poderá ter o mesmo caminho.

O nome que sugeria mundo foi embora do nosso país, mas o seu conceito está muito vivo no atual Ford Fusion.