TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO



Sucessor do Escort, que foi fabricado no Brasil durante treze anos e passou a ser importado da Argentina por mais sete, o médio Focus chegou ao nosso mercado no final do ano 2000, dois anos depois de ser lançado na Europa.



Também fabricado no nosso país vizinho, o Focus representava uma nova filosofia estética da Ford: o New Edge. Impressionava pelas linhas meio retas, meio arredondadas, nas quais se destacavam os faróis angulosos concentrados no capô, que terminava um pouco antes, para formar a grade. A chave do capô, aliás, era escondida pelo emblema Ford. Bastava levantá-lo. As luzes de direção ficavam no para-choque.


O Focus chegou nas carrocerias hatch e sedã, ambos de quatro portas. Na Europa também havia o hatch de duas portas e a perua. As curvas estavam no dois volumes, que tinha traseira de quinas limpas, com as lanternas na coluna bem inclinada. O sedã era até muito comportado para o novo estilo. A lateral tinha caída um pouco vertical e as lanternas traseiras lembravam o antigo Versailles (criado no Brasil).





O interior era bem acabado e confortável, com painel de estilo ousado. O gabinete central tinha forma de U, com os difusores de ar ovais e posicionados de forma diagonal, sobre a divisória da parte superior da inferior que vinha desde o lado do carona. A cobertura do quadro de instrumentos era em arco e se estendia até onde ficava a telinha do computador de bordo. Ainda não existia o cluster colorido entre o velocímetro e o conta-giros. Já o volante tinha quatro braços.


O primeiro Focus hatch tinha 4,15m e o Sedan 4,36m. A distância entre-eixos de ambos era de 2,61m, um ganho de quase oito centímetros em relação ao Escort, o que melhorou bastante o espaço interno, embora ele fosse inferior ao do Chevrolet Vectra, seu concorrente da época. Já o hatch levava vantagem em relação ao Golf. A capacidade do porta-malas do hatch, entretanto, era de 350 litros, 30 a menos que o antecessor. O Sedan, sim, aumentou a capacidade de 459 para 490 litros.

Focus Hatch 2 portas e Station Wagon (nunca vendidos no Brasil)
A linha Focus chegou ao Brasil em duas versões de equipamento: básica e Ghia. O nível sem nome tinha motor Zetec 1.8, 16 válvulas, a gasolina, de 115 cavalos. O Ghia das duas carrocerias e o Sedan comum tinham o Zetec 2.0 16v de 130 cavalos. Ambos os motores eram importados da Inglaterra. O câmbio de cinco marchas era nacional no 1.8 e argentino no 2.0. A suspensão era 10mm mais alta.


A versão Ghia se diferenciava da básica pelas rodas de liga-leve de 15 polegadas e faróis de neblina e teto solar (com abertura manual). Trazia de série ajuste elétrico do banco do motorista, computador de bordo, controles do áudio próximo ao volante, apliques imitando madeira no painel, freios ABS e airbags frontais. Estes dois últimos itens e as rodas de alumínio podiam ser comprados como opcionais no básico.


Na linha 2003, o Focus vendido no Brasil ganhou a abertura elétrica no teto solar, faixa degradê no para-brisa e a opção de bancos revestidos em couro e câmbio automático de quatro marchas. Já o revestimento em tecido ficava mais escuro e áspero.

No mesmo ano chegou ao mercado a série especial XR, que nada mais era que o hatch básico na única cor prata, com rodas de liga-leve de 16 polegadas, suspensão rebaixada em 10mm, amortecedores mais firmes, escapamento mais aberto, teto solar e motor 2.0 de apenas 126 cavalos. Por dentro, revestimento diferenciado com o logotipo da versão gravado nos bancos. Foram vendidas apenas 360 unidades.



O governo Lula já começava a mostrar a sua cara socialista e de poucos investimentos para o país quando em 2004 o Focus conhecia a sua segunda geração na Europa, enquanto aqui a linha ganhava apenas o face-lift que ele recebera lá em 2002. Os faróis ganharam refletores mais expostos e incorporaram as luzes de direção, que ficaram arredondadas. A grade passava a ser em forma de colmeia.

A principal novidade mecânica foi a troca do motor importado Zetec 1.8 pelo Zetec Rocam 1.6 fabricado em Taubaté (SP). Era o mesmo propulsor usado no Fiesta, na picape Courier, Ka e Escort, que aliás, já tinha deixado o mercado em 2003. Tinha apenas oito válvulas e rendia 103 cavalos. Uma perda de 12 cv em relação ao antigo 1.8. Passou a ser oferecido na nova versão GL (exclusiva do hatch) e na GLX, que substituíram a antiga básica sem nome. Esta última também tinha a opção do 2.0, que continuava o mesmo e era de série na versão Ghia, também mantida.

Mas em 2005, o inglês Zetec 2.0 foi trocado pelo Duratec 2.0 16v fabricado no México (com o qual o Brasil mantinha acordo comercial - ainda sem cotas). A potência dependia do câmbio, que passava a ser totalmente nacional. O automático rendia 140 cavalos, enquanto no manual chegava a 147 cv. Somente em 2007 que o motor Rocam 1.6 passou a ser flex, que podia ser abastecido com álcool ou gasolina, uma tecnologia lançada no Gol em 2003, mas usada na Ford desde o ano seguinte, no Fiesta Sedan. A potência com álcool subiu para 113 cavalos. Com gasolina tinha apenas 105 cv.




Segunda geração (2008-2013)


Em 2008, quatro anos depois de lançada na Europa, a segunda geração do Focus finalmente chegava ao Brasil, também fabricada na Argentina e novamente apenas nas carrocerias hatch e sedã de quatro portas. Na Europa também já havia uma versão conversível de teto rígido e um monovolume, o C-Max, além da perua e do hatch duas portas.

O hatch quatro portas ficou mais comportado, com linhas retas e as janelas um pouco afastadas das colunas, mas manteve as lanternas nas extremidades do vidro traseiro, que ficou mais deitado. As janelas laterais do Sedan ficaram mais modernas e as lanternas triangulares ficaram parecidas com as do Vectra de segunda geração. A frente já estava com o face-lift europeu do ano anterior, com os faróis mais horizontais e ondulados e a grade maior. Antes, pareciam com os do Mondeo vendido aqui em 2002. Esta frente original não passou por aqui.



O conceito de estilo agora se chamava Kinetic e tinha fortes influências da sueca Volvo, que ainda pertencia à Ford na época, mas foi vendida para a chinesa Geely pouco depois.

Focus europeu 2005

Focus Sportwagon (inexistente no Brasil)

Focus Coupé-Cabriolet (inexistente no Brasil)

Ford C-Max (minivan derivada do Focus - também inexistente no Brasil)
A segunda geração do Focus ficou bem maior. O comprimento do hatch passou de 4,15 para 4,34m e o do sedã de 4,36m para 4,48m. A distância entre-eixos passou de 2,61m para 2,64m. Isso aumentou bastante o espaço interno. A capacidade do porta-malas do hatch, porém, caiu mais uma vez, passando para 330 litros. Já a do Sedan pulou para 526 litros.


O interior ficou mais simples, tanto em estilo quanto em acabamento. No primeiro caso, as formas do painel ficaram mais convencionais e quase em peça única. Os detalhes em imitação de madeira ou plástico brilhante foram substituídos por apliques prateados na parte central, moldura dos difusores de ar (que continuaram ovais), console, botões, braços do volante e quadro de instrumentos. Entre estes, a máscara que emoldura o cluster do computador de bordo. As portas passaram a ter muito plástico duro no seu revestimento, reduzindo a faixa de tecido. 


As versões eram a GLX e Ghia e o motor, o mexicano Duratec 2.0 16v, que perdeu dois cavalos, caindo para 145 cv. Na lista de equipamentos, as novidades eram o ar condicionado digital de duas zonas, mudanças manuais do câmbio automático, comando de voz para áudio, telefone e ar condicionado e acionamento do motor por botão, sem necessidade do uso da chave. Estes itens eram exclusivos da versão Ghia. A GLX recebeu computador de bordo.

O motor 1.6 chegou ao Focus II em 2009, mas o Rocam foi substituído pelo novo Sigma 16v, posteriormente usado no New Fiesta Sedan. Rendia 109 cv com gasolina e 115 cv com álcool. Nesse mesmo ano, a Ford aproveitou para encerrar de vez as vendas da primeira geração, que continuou apenas nas versões GL e GLX com motor 1.6 Rocam. A versão mais básica voltou à nova geração com o motor Sigma, que também foi oferecido na GLX.


Em 2010 o 2.0 finalmente passou a ser Flex. A potência com gasolina caiu mais dois cavalos (143 cv), mas com álcool subiu para 148 cv. No ano seguinte, a top Ghia mudava de nome para Titanium e ganhava novos equipamentos como faróis auto-direcionais, sensor de chuva e porta-luvas refrigerado. A mudança foi feita porque acabou o contrato de uso do nome do estúdio italiano Ghia, que batizava versões de luxo da Ford desde a época do Del Rey.




Terceira Geração (2013)


O Focus voltou a demorar para ser atualizado no Brasil. Desta vez foram três anos de espera. Pelo menos houve uma compensação: as linhas romperam totalmente com as gerações anteriores. As curvas e saliências chegaram com tudo. O hatch abandonou as lanternas traseiras ao redor do vidro. Estas agora assumiram um formato amendoado na própria tampa, com uma ponta na lateral. Na frente, faróis espichados, com luzes diurnas de LED, e uma grade com friso atravessado, mas chamava atenção a enorme abertura no para-choque, dividida em três. 


O Sedan enfim ganhou linhas que combinam com o hatch, adotando um formato próximo ao de um cupê, imagem que seria reforçada aqui posteriormente, e lanternas horizontais angulosas. Entretanto, há quem diga que ele perdeu personalidade por se parecer demais com o compacto Fiesta, principalmente o Sedan.



As dimensões novamente cresceram. O hatch passou de 4,34m para 4,36m. O sedã de 4,48m foi para 4,53m. A distância entre-eixos dos dois subiu para 2,65m. O problema é que desta vez o espaço interno não mudou. E a capacidade do porta-malas do sedã caiu para 421 litros. A do hatch desceu ainda mais: para 316 litros.

O interior ficou bem mais sofisticado que as duas gerações anteriores. A parte central do painel ficou inclinada, as saídas de ar deixaram de ser ovais para verticais, um pouco abaixo da tela multimídia colorida, o quadro de instrumentos (protegidos por molduras) finalmente ganhou um cluster colorido. O volante continuou com quatro braços, mas passou a ter um miolo menor e mais botões. O revestimento do painel passou a ser totalmente emborrachado. 


O novo Focus chegou ao mercado brasileiro no final de outubro de 2013, como sempre importado da Argentina, em três versões de acabamento: S, SE, SE Plus e Titanium. O hatch tinha motor 1.6 nas versões S e SE e 2.0 nas versões SE, SE Plus e Titanium. O câmbio automatizado Powershift, de dupla embreagem e seis marchas, que substituiu o automático de quatro velocidades, era opcional nas duas versões básicas 1.6 e de série para o motor 2.0. O Sedan também tinha motor 1.6, mas era vendido só para CNPJ, como a geração antiga; Para o varejo tinha apenas 2.0 e câmbio Powershift. 



A tecnologia aumentou no novo Focus. O Titanium tinha os novos recursos como o sistema de estacionamento automático, sensor de estacionamento dianteiro, airbags laterais e de cortina, tela de 8 polegadas no painel central sensível ao toque e navegador por GPS, mas controles de estabilidade e tração e assistente de partida em rampa já estavam disponíveis desde a S. Meses depois a Titanium também ganhou um complemento Plus.



Além do câmbio, os motores 1.6 e 2.0 também traziam novidades. O primeiro ganhou comando variável de válvulas e passou a render 131 e 135 cavalos. Coube muito bem no Fiesta nacional, onde estreou, mas fiou fraco para o Focus. O melhor propulsor do médio foi o 2.0 Direct Flex, de 175 e 178 cavalos. Na verdade, o mesmo Duratec com injeção direta de combustível, comando variável de válvulas e sistema de partida a frio. 


A terceira geração do Focus só ficou quatro meses igual ao modelo vendido na Europa. No Salão de Genebra de 2014 foi apresentada uma nova frente, com grade hexagonal, que o deixou ainda mais parecido com o Fiesta. Os faróis ficaram mais finos e afilados. 


Felizmente, as mudanças levaram apenas pouco mais de um ano para chegarem ao país.As lanternas do hatch continuaram as mesmas, mas do sedã ficaram mais retas. Aliás, este passou a ser chamado de Focus Fastback aqui no Brasil, para transmitir uma imagem esportiva, mais condizente com o estilo "cupê de quatro portas" ao modelo que come poeira de Toyota Corolla e Honda Civic nas vendas. No comercial contratou o ator britânico Gerard Butler e duas belas pilotos de teste.  





Por dentro, o volante passou a ser de três braços, o acabamento trocou o prateado pelo preto e o comando do som perdeu alguns botões, pois ele pode ser operado por voz ou na tela multimídia. Entre os equipamentos as novidades são o assistente de frenagem autônomo e o estacionador automático de segunda geração.


A versão S deixou de existir e a básica passou a ser a SE 1.6 para o hatch e SE 2.0 para o Fastback. A grade do hatch SE tem moldura cromada e tela em colmeia. No Fastback e as Titanium do hatch são preenchidas por filetes cromados.  


Em 15 anos de presença no Brasil, o Focus hatch conquistou o público e a liderança do mercado, mas o sedã ainda busca o mesmo sucesso. Por isso quer ser tão esportivo quanto o dois volumes. Nesse período o médio ganhou em tecnologia e sofisticação, mas perdeu identidade no estilo. Se tornou um "Fiestão".