TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: GUSTAVO DO CARMO E DIVULGAÇÃO


A princípio, o Ford Vedette foi apenas mais um modelo europeu dos anos 40/50. Na verdade, seu projeto é norte-americano, datado de 1941. Daí suas linhas arredondadas, com teto curvado, capô alto, cheio de ressaltos, e para-brisa dividido, que são características desta década. 

O projeto 92A, de um sedã fastback de quatro portas, com a traseira de abertura suicida (para trás), foi comprado pela filial francesa da marca americana, chamada Ford S.A.F. (Societé Anonyme Française), criada em 1928 por Maurice Dollfus, a partir da importadora Ford Automobiles France, esta de 1916.

Por causa da Segunda Guerra Mundial, a fábrica da Ford SAF, em Poissy, só produziu caminhões e veículos militares durante a ocupação nazista. Somente em 1948, o 92A pôde ser produzido lá e lançado no Salão de Paris, com o nome de Vedette, que fazia referência, ao mesmo tempo a um sentinela de cavalaria e às dançarinas de cabarés, como o famoso Moulin Rouge, que se destacavam nas apresentações. E o Vedette nasceu pra ser destaque.


O Vedette inicial tinha apenas dois volumes de carroceria e três janelas laterais de cada lado. Apesar dos 4,67m de comprimento, 1,72m de largura, 1,57 cm de altura e 2,69m de distância entre-eixos, era considerado um compacto. Mesmo assim, o espaço interno era muito bom e o banco da frente acomodava três pessoas. Mas ele tinha defeitos. O acabamento, por exemplo, era pouco esmerado e havia falhas na pintura e cromados que logo se degradavam. 

A suspensão, primeira do mundo a usar o conceito McPherson na dianteira, por sua vez, não filtrava muito bem as ruas de paralelepípedos de Paris dos anos 1950, o que fazia o carro pular muito. O motor era um V8 2.15 litros de cilindrada, que rendia 60 cavalos e tinha torque de 12,4 kgfm. O câmbio era manual de três marchas, mas a primeira não era sincronizada. A tração era traseira.


O Vedette também teve uma versão cupê, conversível, uma comercial hatchback, com porta traseira de abertura dupla, chamada Abeille (abelha, porque, com a terceira janela lateral fechada, parecia o inseto) e uma do tipo targa, Sunliner, com teto de lona.





A miniatura da foto já era do face-lift de 1953, que mudou o cromado da grade, tornou o para-brisa inteiriço (mas ainda com a cicatriz do friso divisório) e acrescentou um terceiro volume à traseira. Só as portas laterais traseiras continuaram com a abertura invertida. O motor também foi modificado e a potência subiu para 66 cavalos. A suspensão foi reforçada com duas estruturas em X. 




As novidades tornaram o Vedette mais confortável ao rodar e agradou muito os taxistas, que passaram a usá-lo, motivados também pelo amplo espaço interno. A indicação de LIVRE ficava no lado de fora, no canto do capô, próximo ao para-brisa. A pintura preta com teto bege era padrão. Na mesma época, já tinha sido lançada a segunda geração, com linhas mais retas e rabo de peixe.


O novo Vedette ganhou versões de acabamento chamadas, da mais básica a luxuosa, Trianon, Versailles e Régence. Foi lançada também a inédita perua Marly. Meses depois, a Ford vendeu as suas operações na França e a fábrica de Poissy para a então genuinamente francesa Simca. A nova proprietária incorporou o Vedette ao seu catálogo e renomeou as suas versões, exceto a Marly, que passaram a se chamar Beaulieu, Présidence e Chambord. Esta última batizou o Vedette II fabricado no Brasil a partir de 1959. A perua foi chamada aqui de Jangada.


E assim conhecemos a pré-história do nosso conhecido Simca Chambord, estrela do seriado brasileiro de TV (O Vigilante Rodoviário) e letra de rock nos anos 80.