O Volkswagen Gol foi lançado em 1980 para tentar suceder o Fusca. O hatch compacto quase morreu antes de completar um ano, mas teve alguns dos seus problemas corrigidos, ganhou outras três variações de carroceria e emplacou como o carro mais vendido do país durante 27 anos.

Seu primeiro derivado, o sedã Voyage, foi lançado apenas em 1981. Somente no ano seguinte, em 1982, a planejada família BX (nome do projeto) ficou completa com o lançamento da perua Parati, em junho e da picape Saveiro, em outubro.

Gol, Parati e Voyage já têm seus perfis registrados aqui no Guscar. Faltava falar da Saveiro. Peço perdão por um carro voltado para o trabalho não ter o mesmo destaque, pois preferi fazer um texto mais resumido, na seção História em Miniatura, ilustrada por uma réplica da minha coleção particular, que faz parte da série Carros Inesquecíveis do Brasil.


A primeira versão da Saveiro, cujo nome veio das embarcações para passageiros e cargas usadas no Nordeste, era praticamente uma Parati com o teto e o habitáculo traseiro cortados e substituídos por divisória, piso da caçamba e os devidos reforços estruturais. Mas a frente de faróis quadrados com os piscas no para-choque era do Gol. O motor 1.6 a ar, de 51 cv, e o câmbio de quatro marchas, também vinha do hatch.

O interior era o mesmo dos outros carros da família, mas o estepe, que no Gol ficava junto com o motor, foi transferido para a cabine, atrás do banco do passageiro, impedindo a regulagem do encosto. Além de voltada para o lazer, com um ambiente de carro de passeio, a Saveiro era focada também no trabalho. Comportava 570 kg. Chegou ao mercado nas versões S e LS.

Nos anos seguintes, foi ganhando as alterações do resto da família, como o motor 1.6 refrigerado a água, que chegou em 1985, meses depois de ser adotado no hatch, que ainda usava o motor a ar. Mas a nova mecânica foi exclusiva da versão LS. Outra novidade foram os piscas verticais junto aos faróis.

Aí seguiram-se os motores AP1600 (o mesmo MD270 que mudou de nome) e AP1800, o face-lift de 1987, a mudança da nomenclatura de versões para CL e GL, o novo interior de 1988, o motor AE1600 da Ford, o face-lift de 1991 e os para-choques cinza de 1993. A descrição da semelhança com o resto da linha é interrompida para falar de uma peculiaridade da Saveiro: a picape foi a única com a carroceria de primeira geração do Gol a ter motor com injeção eletrônica no 1.8. Isso porque a segunda geração demorou para ser lançada. Outra tradição da Saveiro são as suas séries especiais limitadas. Na primeira geração teve a Sunset e a Summer.  


Em 1997, a Saveiro ganhou um pouco mais de personalidade na segunda geração, com lanternas exclusivas, emblema Volkswagen de maiores dimensões e um vidro vigia na cabine, que criava a ilusão de uma cabine estendida, que só foi lançada na geração seguinte. Isso porque foram usadas as portas do Gol e Parati de quatro portas, que são mais curtas. Com a sobra de espaço criaram o vidro extra. A versão mais forte desta nova carroceria foi a TSI (que nada tinha a ver com o atual motor turbo da Volkswagen), com motores 1.8 e 2.0 de 110 cavalos. O visual era parecido com o Gol e Parati GTI 16v. 

Em 2000, a Saveiro ganhou a nova frente padronizada da Volkswagen, adotada no Gol e Parati no ano anterior, abolindo as versões identificadas por siglas, criando-se apenas opcionais com nomes Sportline e Comfortline. O interior também foi inteiramente renovado. Mas para manter a tradição de um carro voltado para surfistas, ganhou as séries especiais SuperSurf (nome do campeonato brasileiro de surfe da época que a Volkswagen patrocinava) e Crossover, que tinha frisos cromados na grade. Em 2002, o estepe passou para a caçamba, aliviando o espaço atrás do passageiro. No ano seguinte, o motor 1.6 passava a ser Flex (até então, tinha opção de motor a gasolina ou a álcool). A versão City, com foco nos frotistas, era lançada em 2004.

Em 2005 a Saveiro ganhava o mesmo face-lift do Gol, com aletas mais grossas na grade e integradas ao para-choque, com recorte em V. O painel foi igualmente simplificado, com muito plástico duro no painel e nas portas e quadro de instrumentos concentrado do Fox. O motor 1.8 foi temporariamente abandonado em 2006 (voltaria em 2007) em razão do 1.6 Flex, que passou a equipar a já promovida a versão Crossover e a volta da SuperSurf, depois simplesmente Surf, que tinha a moldura da grade na cor cinza. A Titan tinha grade e para-choques pretos e substituiu a City. 


Somente em 2009, a Saveiro ganhou a sua terceira geração e, como novidade principal, uma verdadeira cabine estendida. A caçamba arredondada, com lanternas verticais retangulares e grossas lembra a picape grande Amarok. Também ganhou uma reentrância na lateral para apoiar os pés, como a rival Chevrolet Montana. As versões eram a básica, Trend, Trooper (de rodas escurecidas) e Cross (com grade escurecida, mas moldura na cor do carro). 

Novo face-lift foi apresentado em 2013, agora para atender ao quase atual padrão estético da Volkswagen. Para a linha 2015, a novidade foi a cabine dupla, de quatro lugares, mas ainda com duas portas, que a rival Strada abandonou no ano anterior para ter três portas. Foi lançada a versão Highline e a Startline passou a ser a básica. O motor 1.6 MSI 16v de 120 cv, estreou no Gol Rallye e Saveiro Cross e estava sendo usado apenas na picape até o lançamento do novo Polo. A Saveiro também ganhou controle de estabilidade, assistente de partida em rampa e bloqueio eletrônico do diferencial. Também teve uma série especial Rock in Rio.

Para a linha 2017, apresentada no ano anterior, a Saveiro ganhou o face-lift que é a sua atual frente. Os faróis com as pontas inferiores recortadas são exclusivos da picape, dando-lhe mais personalidade. Mas o interior é o mesmo que serve ao Gol e ao Voyage. A versão Robust passou a ser a básica, substituindo a Startline, e para a linha 2018, ganhou a opção de cabine dupla. Seu painel ainda é o antigo. A série especial do momento é a Pepper, com cabine estendida ou dupla e motor 1.6 de oito válvulas. 


De simplesmente um Gol com caçamba e lanternas de Parati, a Saveiro se transformou, em seus 35 anos de existência, em uma miniatura da grande Amarok, É a única variação do hatch que não teve a sua trajetória interrompida. O Voyage não teve a geração "bola", mas voltou em 2008, e a Parati foi abandonada nesta terceira, morrendo em 2012. 

Mas essa invencibilidade está ameaçada, porque, segundo as montadoras. que não investem adequadamente, o brasileiro não está mais interessado nas picapes compactas (ou não compra por falta de opção). O jeito é torcer para que a Saveiro passe por nova metamorfose e dê o seu nome para a futura picape da plataforma do Polo, a ser lançada para concorrer com a  Fiat Toro.  




TEXTO E FOTOS DA MINIATURA: GUSTAVO DO CARMO
FOTOS DO MODELO REAL: DIVULGAÇÃO