Entre os modernos importados que desembarcaram no Brasil, no início da década de 1990, depois da reabertura decretada pelo ex-presidente da República Fernando Collor de Mello, um deles chamava atenção pelo vidro: o Subaru SVX, que tinha as janelas laterais divididas por um imenso quebra-vento, que reduzia a área abaixável pela metade. A parte superior era fixa. 


Hoje, os brasileiros mal se lembram do seu fabricante: a Subaru, marca da Fuji Heavy Industries, megaempresa japonesa, famosa pelos seus carros de qualidade e confiáveis. Foi consagrada no Mundial de Rali (WRC) com o sedã Impreza azul, três vezes campeão de pilotos (1995 com Colin McRae, 2001 com Richard Burns e 2003 com o norueguês Peter Solberg). Curiosamente, os dois pilotos britânicos já são falecidos. O primeiro num acidente aéreo e o segundo de câncer. A Subaru ainda está no mercado com o Impreza sedã (o hatch deixou de ser importado), nas versões "civil" e as esportivas WRX e WRX STI, os crossovers XV e Forester, o sedã de luxo Legacy e sua perua aventureira Outback.


Voltando ao Subaru SVX, por trás da sua incomum janela lateral, há uma história. Ele já era a segunda geração de um cupê lançado em 1985, chamado no Japão de Alcyone, baseado no Legacy. O esportivo tinha o porte do Toyota Celica, do Nissan Silvia e do Mitsubishi 3000GT, este último o seu principal concorrente no Brasil, país da nossa conhecida sambista homônima: a "Marrom" Alcione. 



A primeira geração do Alcyone, o carro, tinha linhas retíssimas, com lugares traseiros muito apertados e um terceiro volume superlongo, que fazia com que o teto caísse quase no meio da carroceria. A frente possuía faróis escamoteáveis (escondidos no capô que se levantavam quando acesos). Se chamava Alcyone XT e tinha motor boxer (quatro cilindros contrapostos) 1.8 aspirado de 97 cv ou com turbo, de 112 cv. Na Europa, chegava a 136 cv. O câmbio era manual de cinco marchas ou automático de três. A suspensão do turbo era pneumática. 

Em 1988, o Alcyone XT trocou o motor 1.8 turbo por um de seis cilindros 2.7, também boxer, de 145 cavalos. No Japão passou a se chamar de Alcyone XV e em outros mercados, como o americano, de XT6. 




Subaru Alcyone XT - o antecessor do SVX

O SVX como o brasileiro passou a conhecer com a reabertura das importações, em 1992, foi lançado no ano anterior, tendo sido revelado como conceito em 1989. Suas linhas foram intensamente arredondadas, especialmente na caída do teto. A traseira deixou de ser longa para ser curta e alta, com lanternas horizontais finas e infinitas. Sobre elas se destacava um aerofólio que se apoiava próximo ao vidro vigia lateral, cortado pelo quebra-vento, junto com a janela principal. Aliás, o conjunto envidraçado foi escurecido. Em conjunto com o teto preto de algumas versões dava um aspecto de nave espacial futurista. A frente continuou longa e os faróis passaram a ficar expostos e finos, separados por uma pequena minúscula abertura que ainda tinha uma moldura prateada em forma de canoa. As linhas foram criadas pelo famoso Giurgetto Giugiaro, então na ItalDesign, criador também do De Lorean DMC12. Daí a ousadia do polêmico quebra-vento, que pretendia evitar a turbulência provocada pelo vento e fazê-lo andar mais rápido. 





De Lorean DMC-12

O painel tinha um vinco vertical no gabinete central, que por sua vez trazia uma tampa que cobria o toca-fitas e o CD Player. As alavancas do câmbio e do freio de mão tinham formato de joystick. O quadro de instrumentos era grande, comportando velocímetro, conta-giros, indicador de marchas, marcadores de combustível e temperatura de água, check-control e aviso de portas abertas. Completavam o interior, volante de quatro braços, bancos com revestimento em couro, encostos de cabeça (também no traseiro) vazados e acabamento do lado do carona em veludo. Ao contrário do XT, o espaço traseiro era generoso para duas pessoas. 



Na lista de equipamentos, também havia ar condicionado, trio elétrico, abertura das portas por controle remoto, piloto automático, freios ABS, airbags frontais, indicador de portas abertas, bancos dianteiros com regulagem elétrica e aquecimento, teto solar elétrico, ajuste interno do facho e lavador dos faróis, fechadura das portas e para-sóis iluminados e rodas de liga-leve de 16 polegadas. Muitos destes equipamentos eram novidade na época, principalmente para o brasileiro. 

O motor boxer de seis cilindros já tinha evoluído para 3.3 litros de capacidade cúbica e rendia 230 cavalos. O câmbio era automático de quatro marchas com controle eletrônico e a tração era 4x4, com 65% do torque distribuído para as rodas traseiras. 



Segundo a revista Quatro Rodas de setembro de 1992, ele acelerava de 0 a 100 km/h em 9,75 segundos e retomava a velocidade, entre 40 e 100 km/h em 7,05 segundos. Seu consumo era de 6,46 km/litro na cidade e 12 km/l na estrada, carregado. A frenagem a 80 km/h era em excelentes 25,2 metros e o ruído a mesma velocidade, de 62,8 decibéis. 



O preço do Subaru SVX, há 25 anos, era de 82 mil dólares. Convertendo esse valor para a cotação de hoje, ele se aproxima de R$ 265 mil. Um Chevrolet Camaro e um Audi TT atualmente custam R$ 310 mil. No mercado de usados, segundo a FIPE, varia entre R$ 20.887, o modelo 1992, e R$ 25.733 o 1998, último ano modelo do cupê, que parou de ser importado no ano anterior, quando também saiu de cena no mercado mundial. 



Antigos proprietários do SVX sentem saudades. Outros o compraram depois do fim de sua produção, realizando um sonho. Já os demais só devem se lembrar da propaganda dos bebês nus, que descobriam o esportivo. 

Sendo "negão" ou de qualquer outra cor, o Subaru era de se tirar o chapéu, mesmo com o polêmico quebra-vento. 




TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO
DADOS DE TESTE: REVISTA QUATRO RODAS