Para o Brasil, o Alfa Romeo 164 marcou a volta, em 1990, da marca italiana ao país, quatro anos depois de encerrar a produção do antigo modelo 2300ti em Betim, Minas Gerais. E também o reinício das importações, após quinze anos de proibição. Inicialmente, custava 135 mil dólares e era praticamente inacessível. Mas a partir de 1993, com a redução da alíquota de importação, seu preço caiu para 55 mil dólares, o que o colocou como um forte concorrente do Chevrolet Omega nacional.

Na Europa, o 164 está comemorado, em 2017, 30 anos de produção. Fazia parte do projeto Tipo 4, uma plataforma que seria usada, além da Alfa Romeo, pela sueca Saab (9000, de 1984 - única marca fora do grupo Fiat a fazer parte do projeto), a Fiat (Croma, lançado em 1985), a Lancia (Thema, de 1986) e finalmente o 164, último a ser apresentado, no Salão de Frankfurt de 1987, quando a Alfa Romeo já pertencia à Fiat desde o ano anterior, mas o projeto havia começado em 1978, quando a marca da Lombardia ainda era independente.


Saab 9000 (1984)

Fiat Croma (1985)

Lancia Thema (1986)
O objetivo era oferecer um luxo e requinte mais em conta que os sedãs da Audi (100), BMW (Série 5) e Mercedes (Série E). Mas teve outros concorrentes mais populares com a mesma intenção, como o Ford Scorpio, o Opel Omega, Citroën XM, Peugeot 605 e Renault 25.

O Alfa 164, que substituiu na Europa o Alfa 6, foi desenhado nos estúdios Pininfarina e tinha o estilo mais aerodinâmico (Cx 0,30 de coeficiente), harmonioso e bonito do projeto, com faróis trapezoidais, triângulo (ou cuore) cromado da marca no centro da grade, cravando sutilmente o para-choque e lateral com vinco marcante na altura das maçanetas, volumes bem definidos e linhas discretas. A traseira era alta com lanternas finas ligadas por um refletor vermelho. Tinha 4,55m de comprimento e 2,66m de distância entre-eixos e era considerado grande na época, mas era menor que o atual Giulia, que tem 4,64m e 2,82m. 


O interior era bem acabado, com materiais como veludo e couro (como opcional). O painel tinha linhas retas e muitos instrumentos e botões (hoje impensável num mundo digital por toque e até gestos). Os difusores centrais de ar pareciam um mini gabinete de ar condicionado ou aquecedor. Na lista de equipamentos se destacavam bancos com regulagem elétrica (inclusive os de trás), computador de bordo, airbags frontais e ar condicionado digital, uma novidade na época.


O 164 foi o primeiro sedã grande da Alfa Romeo com tração dianteira, para desespero dos puristas da época. E também o primeiro com estrutura criada com o uso extensivo de computadores, proporcionando uma estrutura rígida e leve. A suspensão era independente nas quatro rodas com subchassi dianteiro. Algumas versões tinham sistema de correção automática de altura conforme a carga.


Na Europa foram oferecidas, inicialmente, quatro motorizações: quatro cilindros 2.0 8v de 146 cavalos de potência, um 2.0 turbo de 175 cv, um V6 (seis cilindros em V) 3.0 12v de 192 cv e um turbodiesel 2.5 de quatro cilindros de 116 cv. O câmbio era manual de cinco marchas e automático de quatro.


O 164 chegou ao Brasil somente com o motor V6 3.0 12v e câmbio automático. Veio completo em 1990 pelos já citados US$ 135.000, com direito a ar condicionado automático, bancos elétricos e a suspensão niveladora. Mesmo com a ampla rede de concessionárias da Fiat, a assistência era ruim porque poucas revendas foram treinadas para trabalhar com o novo Alfa Romeo. E faltavam peças, que eram caras, obviamente.

Com a redução do imposto de importação para 35%, o 164 pôde enfim baixar o preço para 55 mil dólares e competir com o Chevrolet Omega, Ford Taurus e Hyundai Sonata. Em 1994 a potência caiu para 183 cavalos por causa do catalisador e a nossa gasolina. Em compensação, a frente ganhou um ligeiro face-lift, que deixou o triângulo da Alfa Romeo mais largo, para-choques e para-lamas laterais mais lisos e os faróis menores e mais transparentes, com dupla parábola. Foi o melhor ano do sedã da Alfa no Brasil, com 2.731 exemplares importados. Em 1995 chegou a versão Super, com motor V6 3.0 de 24 válvulas de 211 cavalos. 


Na Europa, o sedã 164 ganhou outras três novas versões: uma com motor V6 2.0 turbo de 210 cavalos e a esportiva Quadrifoglio Verde, com o V6 3.0 24v modificado para 232 cavalos, permitindo uma aceleração em sete segundos e velocidade máxima de 240 km/h. A terceira versão é a mesma Quadrifoglio (que perdeu o Verde no nome) com tração integral nas quatro rodas, chamada Q4. 



Na China, o nome precisou ser mudado porque 164, pela numerologia chinesa, significava "caminho para a morte". Mas a mudança só ocorreu depois que o carro chegou ao mercado local e ficou encalhado nos pátios. Finalmente decolou quando passou a ser chamado de Alfa Romeo 168, que significava "caminho para a prosperidade". Já nos Estados Unidos o 164 foi o último Alfa Romeo vendido por lá.


O Alfa Romeo 164 foi fabricado na Itália até 1997, quando foi substituído pelo 166, de desenho mais arredondado e esportivo. Foram produzidas 270 mil unidades, das quais 6.277 vieram para o Brasil até 1996. A versão V6 3.0 comum de 1991 está cotada, segundo a FIPE, em R$ 7.779. Já a Super 24v do último ano do modelo, vale R$ 16.921. 


Seu sucessor só chegou aqui em 1999 e, ainda assim, durou apenas quatro anos porque a Alfa Romeo saiu do Brasil em 2003. Por isso, o 164 é mais lembrado pelos brasileiros. Os que têm a minha idade, claro. Já os mais velhos lembram mais do antigo 2300ti nacional e até do FNM JK. 


Publicado originalmente em 26 de julho de 2017
TEXTO: GUSTAVO DO CARMO 
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