Taí o que você queria
Texto: Gustavo do Carmo (com trechos do Portal Alpini)
Fotos: Divulgação

Essa frase era dita sempre pelo locutor Januário de Oliveira em suas transmissões do futebol carioca pela Band, até exatamente 10 anos atrás, quando os times davam o pontapé inicial para o jogo. Por isso, achei a mais apropriada para começar falando do novo Gol, depois de tanta expectativa, especulações, fotos vazadas e duas pseudo-novas gerações. Sem falar que, com ele, inauguro oficialmente o Novo Guscar, agora um blog de verdade.

Líder de vendas do mercado geral brasileiro há 21 anos, encaminhando-se para o 22o, com esse novo modelo, o compacto mais bem-sucedido da Volkswagen provavelmente se manterá por muito mais tempo. É o verdadeiro Geração III, designação adotada em 1999 quando a carroceria anterior ganhou o seu primeiro face-lift. Geração 4? Também não. Esse apelido ele também recebeu em 2005, numa nova remodelação cosmética. Para evitar mais confusões de gerações, o marketing da marca alemã decidiu evitar numerar a sua evolução e o está chamando simplesmente de Novo Gol.

Há quem diga que este novo Gol é a verdadeira segunda geração. Não precisa exagerar e esquecer a carroceria anterior. Mas, de fato, é a primeira vez que o Gol é renovado desde o chassi. Quando a carroceria foi totalmente reestilizada em 1994, a plataforma do modelo de 1980 foi mantida com algumas modernizações. Por isso, o projeto exigiu a manutenção da posição longitudinal do motor. O resultado foi a montagem da coluna de direção inclinada para a esquerda, sacrificando a posição de dirigir e marcando negativamente a fama de sua ergonomia por quase quinze anos.

O Novo Gol usa a plataforma PQ24, a mesma do Fox e do Polo. Com ela, o motor passa a ser montado na transversal, abrindo mais espaço para o habitáculo e proporcionando 55% a mais de rigidez. A confiante Volkswagen diz que em dez anos ficará mais rígido do que um G4 0 km. Isso, só o tempo dirá. A suspensão dianteira veio da plataforma PQ25, do Seat Ibiza e dos futuros Audi A1 e VW Polo.

Apesar do aumento de espaço, o Novo Gol é mais curto. São 3,89m de comprimento contra 3,93m do G4. O que, de fato, aumentou, foi a distância entre-eixos, mesmo assim, foi apenas um centímetro. Largura e altura cresceram bem. A primeira de 1,62m para 1,65m e a segunda de 1,41m para 1,46m. Para ampliar o espaço interno alguma coisa teve que pagar. E o preço foi o porta-malas, que se manteve com 285 litros de capacidade.

Antes de falar do interior, vamos comentar sobre o tão esperado desenho. Suas linhas são inéditas no mercado brasileiro. Até que enfim uma novidade estética na Volkswagen brasileira desde o Fox. O perfil é arredondado, com as linhas do teto arqueadas. Não notei semelhança com nenhum outro carro do mercado nacional. A área envidraçada do Gol é tradicional, com o vidro vigia lateral traseiro na parte de baixo. Só a dianteira que segue o novo padrão estético da marca, de faróis retos, com um leve recorte em sua base e pontiagudo na lateral. A grade é simples, com apenas um friso cortando o emblema. Ficou a cara do Tiguan, o sport-utility compacto que eu mostrei lá no fotolog em março. O pára-choque dianteiro lembra o coupé Scirocco, também mostrado no Guscar. Grade e pára-choques são na cor da carroceria. O duplo refletor dos faróis é de série na versão mais cara e opcional nas mais simples. Só para dar um toque de sofisticação, volto a falar da lateral para dizer que o vinco na altura das maçanetas é semelhante ao do Passat CC, o coupé-sedan que chega ao nosso país no ano que vem. Vinco que aparece também na traseira, onde a VW diz que se inspirou no modelo de 1980. Só se for no formato horizontal das lanternas em relevo, alinhadas ao pára-choque. No entanto, o corte das lanternas para a tampa traseira é inclinado. Muito vagamente lembra o Peugeot 307. E a aparência ficou melhor resolvida que a do Palio, que usa a mesma disposição. A traseira ainda tem um discreto aerofólio, próximo ao teto, em todas as versões.


Finalmente entramos no carro. O ponto negativo é o desenho do painel praticamente igual ao do Geração 4, até no difusor circular de ar e no console central. Mas a má impressão termina por aí. O quadro de instrumentos "quatro em um" vindo do Fox felizmente ficou só com ele e a Kombi. No Novo Gol são separados, têm moldura cromada e entre eles, nas versões mais equipadas, há o display do I-System, que estreou no Polo, que logicamente, é o novo fornecedor do conjunto. Os controles de ventilação têm aparência rosqueada, com detalhes prateados. Se parecem com aqueles comandos de climatização automáticos. Falando em detalhes prateados, eles estão presentes também, desde a versão básica, nas maçanetas e no anel da base da alavanca de câmbio. Mas é tudo pintado. Falando em cores, a versão mais cara possui painel bicolor. O acabamento melhorou 100%. Mas ainda aquém do Palio e do 207 Brasil, os melhores neste quesito.

Os bancos ganharam um formato mais envolvente e estão 2,9cm mais altos, para melhorar de vez a posição de dirigir. Além do Ponto H (referente aos quadris), o espaço cresceu para a cabeça e os joelhos. Mas nem tanto assim. Há cerca de oito porta-objetos. O porta-malas, como já disse, manteve a capacidade, mas piorou o acesso por causa da robustez do pára-choque e a invasão das lanternas.



O Novo Gol aposenta de vez o motor 1.8. Talvez reapareça em outras ocasiões, dependendo do comportamento de mercado. É lançado apenas com os volumes cúbicos de 1.0 e 1.6 litros. Ambos TotalFlex e com a melhoria de torque adotada na linha 2009 do Fox, o chamado VHT (Very High Torque). A força máxima do 1.0 subiu para 9,7 kgfm com gasolina e 10.6 kgfm com álcool. A potência agora é de respectivos 72 e 76 cavalos. Números de desempenho oficiais: velocidade máxima de 167 km/h (com gasolina) e 169 km/h (com álcool) e a aceleração de 0 a 100 km/h acontece em 13,4 s, com gasolina, e 12,9 s, com álcool. O consumo urbano é de 14,1 kml/l com gasolina e 9,6 km/l com álcool. Na estrada, são 18,6 km/l (G) e 12,6 km/l (A).

Além do AP1800, o AP600 1.6 também sai de cena para dar lugar ao EA111, também usado nos irmãos Fox/Polo/Golf. Com as mesmas mudanças do 1.0, tem torque máximo de 15,4 e 15,6 kgfm a 2.500 rpm. A potência máxima é de 101 cv com gasolina e 104 cv com álcool, sempre a 5.250 rpm. A relação de marchas é mesma usada no Polo. Os dados de desempenho divulgados são velocidade máxima de 190 km/h (gasolina) e 192 km/h (álcool) e aceleração de 0 a 100 km/h em 9,8 s (gasolina) e 9,6 s (álcool). O consumo na cidade é de 13,1 km/l com gasolina e 8,8 km/l com álcool. Já o rodoviário é de 18,5 km/l (G) e 12,4 km/l (A).

Para a segurança dos ocupantes, a principal novidade é a volta do airbag e dos freios ABS à lista de opcionais do Gol. Para todas as versões. Também sem exceção é a oferta de cinto de segurança com regulagem de altura e dois encostos de cabeça traseiros. Outros destaques são o imobilizador Immo 4, de cinco algoritmos de criptografia, também usado no Audi A8, e o mecanismo das fechaduras do Novo Gol encapsulado, que impede sua abertura por meio da introdução de michas. Qualquer tentativa de girá-lo por outro meio o faz girar em falso, mas ao ser usada a chave original do veículo, o mecanismo volta a funcionar normalmente.

Mencionados os motores podemos falar das versões e equipamentos. Basicamente são três: 1.0 (preço básico de R$ 28.890), 1.6 ( R$ 32.290) e 1.6 Power (R$ 36.420). Todas são equipadas de série com banco do motorista com regulagem de altura, controle interno dos retrovisores, hodômetro e relógio digital, console, pára-sóis com espelho, porta-luvas, porta-malas revestido em carpete e tomada 12V, entre outros itens. Por fora, pára-choque na cor do veículo e vidros verdes, além de rodas de aço 13” com pneus 175/70 no 1.0 e rodas de aço 14” com pneus 175/70 no Gol 1.6. As versões mais simples possuem faróis de refletor único. A segunda párabola está disponível já a partir do pacote Trend, para as duas cilindradas (R$ 29.825 no 1.0 e R$ 33.235 no 1.6), junto com aerofólio traseiro estendido e a chave tipo “canivete”.


O Gol Power traz de série, além dos itens básicos mencionados no parágrafo anterior, direção hidráulica; abertura elétrica interna do porta-malas; seis alto-falantes e fiação elétrica para som; conta-giros; coluna de direção com regulagem de altura e profundidade; desembaçador, limpador e lavador do vidro traseiro; pára-sóis iluminados; luz de cortesia em todas as portas; temporizador no lavador de pára-brisa; antena de teto com amplificador; faróis com duplo refletor e máscara negra; faróis de neblina; frisos, moldura dos faróis de neblina, grade dianteira e saída de escape cromados; lanternas escurecidas; maçanetas e retrovisores na cor do veículo; soleira e coluna B pretos; brake-light e rodas de aço 15” com pneus 195/55 R15; cintos de segurança traseiros retráteis; detalhes cromados; extensão de console; pára-brisas dégradé e porta-objetos nas laterais das portas, entre outros itens.

Como opcionais, as versões 1.0 e 1.6 contam com aquecimento interno; preparação para som; limpador, lavador e desembaçador do vidro traseiro mais temporizador do pára-brisa (Funcional I); trava elétrica + vidro elétrico das portas dianteiras (Kit I); este mesmo pacote com ar-condicionado (Kit II) ou então com direção hidráulica (Kit IV); ou ainda uma combinação de todos este itens (Kit III). Para o Gol Power, são opcionais: aquecimento; travas e vidros elétricos (Kit I) e o ar-condicionado acrescido de alarme keyless e do item anterior (kit V). Em todas as versões é possível pedir rodas de alumínio 15”; rádio Concept com entrada USB e SD Card (cartão de memória das câmeras digitais) ou rádio Mid, que inclui ainda CD Player MP3 e Bluetooth; volante multifuncional; freios ABS e duplo airbag.

Em breve faço um Vale a Pena? com o novo Gol para avaliar se o preço dele com ar, direção e trio elétrico compensa para roubar os proprietários do Fox. O compacto lançado em 2003 tem enfrentado problemas de credibilidade e qualidade com o rebatimento do banco traseiro e pode ser o mais prejudicado com o relançamento (ou seria melhor dizer renascimento?) do irmão mais velho. O Polo pode ser incomodado, mas nem tanto por causa do seu posicionamento. O Gol Geração 4 permanecerá numa versão mais simples apenas com duas portas. Por isso, o Novo Gol terá apenas quatro portas inicialmente. Em outubro, a família terá de volta a versão sedã com a possibilidade de resgatar o nome Voyage. A picape sucessora da Saveiro chegará no ano que vem. Devido ao sucesso da SpaceFox, que já lidera o mercado das peruas, desta vez será a Parati quem deve morrer na terceira geração da família Gol.

O desenvolvimento da evolução do segundo compacto mais duradouro da Volkswagen e do Brasil (só vai superar o Fusca por anos de produção em 2011) demandou R$ 1,2 bilhão em pesquisa e desenvolvimento, simulação virtual, ensaios destrutivos, testes de durabilidade (2 milhões de quilômetros rodados), novas máquinas e sistemas de produção, e treinamento de pessoal. O conceito de marketing "Lindo como nunca. Gol como sempre" é defendido por Gisele Bündchen e Silvester Stallone. O projeto demorou três anos e meio. Isso quer dizer que, enquanto eu estava criticando a discreta mudança e espartanização do Geração 4, a Volkswagen já estava se preparando para calar a minha boca e daqueles que achavam que o Gol morreria. Taí o que você queria.