TEXTO E MEDIÇÕES: MÁRIO COUTINHO LEÃO | FOTOS: DIVULGAÇÃO

Talvez a ideia de uma moto com compressor volumétrico seja muito estranha. Nos carros o sistema é mais comum, como o Dodge Charger R/T na década de 1970 e o Ford Fiesta Supercharger quase 15 anos atrás. Agora imagine um veículo de duas rodas, pesando apenas 216kg que usa propulsor tetracilíndrico superalimentado de 16,8mkgf de torque! Só para comparar, um Golf 1,6-litro 16v MSI tem a mesma força para carregar mais de 1.200kg de massa (veja avaliação dele, do TSI e também do GTI clicando aqui). A tal moto existe mas só pode andar em pistas fechadas. Ela não tem placa, retrovisores, setas, faróis, descanso lateral, abafador no escapamento e sequer ventoinha no radiador! 

Para tornar a situação mais insana, lembre que a potência máxima equivale a pouco mais de dois Toyota Corolla XEi, são 310 cavalos! Junte isso à (muita!) eletrônica e pneus slick. Radical demais? OK, existe a versão de rua. Perde o "R" no nome para ganhar o direito de ir e vir nas vias públicas, mas também não faz feio nos circuitos. Nosso teste serveria para responder a duas perguntas: A primeira é "O que essas Ninjas supercharger têm a mais que a ZX-10R?" e a segunda "Dá para tirar o troféu de moto mais rápida disponível nas lojas?"



A BMW S 1000 RR, desde 2009, acelera na frente de todas as outras superbikes, sem custar muito mais por isso. E é fabricada no Brasil, o que facilita e desonera a manutenção preventiva e corretiva, algo que sempre relevante ao assinar um cheque acima dos R$70mil. Nas três pistas fechadas alugadas para os testes do GUSCAR a alemã nacionalizada esbanjou ciclístiva e velocidade, sempre um pouco à frente da rival verde ZX-10R. A Ninja H2 ficaria acima da ZX-14, que é uma hyperbike ("velocista"), assim como a mítica Suzuki GSX-R 1300 Hayabusa. E a H2R fica como uma criatura fora de qualquer contexto que não seja uma pista de competição. Comecemos pela versão "civil", a H2.



Em relação à ZX-10R ela apresenta mais força em baixos giros, coisa bem pouco percebida. Na telemetria é que a prova de retomada mostra a vantagem quase desprezível. Só "mandando a mão" é que a velocidade aparece, mas cabe comentário: A potência das duas é a mesma de 200 cavalos, mas a ZX ganha mais 10 cavalos acima dos 200 km/h ao encher sua caixa de ar de 9,5 litros. As marchas mais longas, o peso maior e a aerodinâmina menos cuidada acabam anulando a vantagem. A passagem dos 150 aos 250 km/h leva 3 segundos a menos na H2. Frenagens e curvas da superbike aspirada são mais suaves e previsíveis, situações pouco menos tranquilas na superalimentada. A graça acaba quando se analisa a BMW S 1000 RR, o "espanco" é grande e nítido. Seja nos números, seja na brutalidade da condução. A frente só fica sossegada acima da quarta marcha, só aí que dá para "enrolar o cabo" sem (tanto) medo.



Buscando tempo em um circuito mais travado a ZX é a mais amigável. A BMW exige mais corpo e a H2 fica inquieta, não aceitando muito a condição de muita força 100% do tempo. Todas completam a "Power Lap" (volta rápida partindo da imobilidade) abaixo de 1 minuto, o que exige bom piloto e condições climáticas. Só conseguimos uma volta completa na H2 antes da chuva, mas dá pra dizer que o ritmo fica entre a ZX e a RR. E a H2R só não tirou o troféu da moto alemã nas nossas três pistas porque não ser comprada facilmente nas lojas e o preço é praticamente 5 vezes maior! Sim, a pedida é R$350mil! Só para ilustrar, com esse montante você compra uma Yamaha YZF R1, uma BMW S 1000 RR e uma Ducati 1299 Panigale...


Não tem o status da monstra com compressor mas dá pra tirar uma onda nos trackdays, baladas, estradinhas sinuosas do interior dos estados. E nem precisa de carro de apoio, ventilador, suporte de balança e uma equipe toda ao redor. E pode levar as "moças modernas e desimpedidas" para umas voltas noturnas. Elas não vão se importar com os duros,  curtos e estreitos assentos de garupa, nem com as pedaleiras elevadas.




 .: BMW S 1000 RR :. 
0 a 50 km/h: 1,6s - 13,2s
0 a 100 km/h: 3,4s - 48,2m
0 a 150 km/h: 5,6s - 138,7m
0 a 200 km/h: 8,2s - 280,1m
0 a 250 km/h: 11,8s - 496,4m
0 a 1.000 metros: 18,5s - 289,7km/h
Velocidade ZF-TRW: 299,5km/h - 0,05g
Velocidade Máxima CTA-SJC: 304,0km/h
50 a 100 km/h (6a marcha): 3,8s - 79,9m
Power Lap VELO CITTÁ: 0m58s22 - 231,4km/h


 .: Kawasaki Ninja ZX-10R :. 
0 a 50 km/h: 1,8s - 14,4s
0 a 100 km/h: 3,4s - 47,6m
0 a 150 km/h: 5,6s - 141,5m
0 a 200 km/h: 8,7s - 300,1m
0 a 250 km/h: 14,1s - 653,4m
0 a 1.000 metros: 18,9s - 275,3km/h
Velocidade ZF-TRW: 285,7km/h - 0,05g
Velocidade Máxima CTA-SJC: 290,0km/h
50 a 100 km/h (6a marcha): 3,9s - 83,2m
Power Lap VELO CITTÁ: 0m59s66 - 215,8km/h

 .: Kawasaki Ninja H2 :. 
0 a 50 km/h: 1,7s - 13,5s
0 a 100 km/h: 3,3s - 46,8m
0 a 150 km/h: 5,4s - 136,6m
0 a 200 km/h: 8,1s - 282,6m
0 a 250 km/h: 11,9s - 522,0m
0 a 1.000 metros: 18,3s - 288,4km/h
Velocidade ZF-TRW: 293,6km/h - 0,02g
Velocidade Máxima CTA-SJC: 295,9km/h
50 a 100 km/h (6a marcha): 3,9s - 81,4m
Power Lap VELO CITTÁ: não aferida - chuva

 .: Kawasaki Ninja H2R :. 
0 a 50 km/h: 1,9s - 15,7s
0 a 100 km/h: 3,8s - 51,3m
0 a 150 km/h: 5,7s - 134,5m
0 a 200 km/h: 8,1s - 261,3m
0 a 250 km/h: 10,4s - 388,1m
0 a 300 km/h: 16,4s - 873,5m
0 a 1.000 metros: 18,0s - 312,1km/h
Velocidade ZF-TRW: 327,6km/h - 0,08g
Velocidade Máxima CTA-SJC: 335,9km/h
50 a 100 km/h (6a marcha): 4,9s - 102,1m
Power Lap VELO CITTÁ: 0m58s13 - 232,5km/h