TEXTO: GUSTAVO DO CARMO | FOTOS: DIVULGAÇÃO E REVISTA QUATRO RODAS (MARCO DE BARI - IN MEMORIAN - E CLÁUDIO LARANGEIRA)


Em 2016, o Ford Del Rey completou 35 anos de lançamento. Não chegou a ser um campeão de vendas, mas encantou o mercado com o seu conforto, o seu vistoso relógio digital e por ter popularizado os vidros elétricos. Dez anos depois, ele precisou ser substituído.

Na sua história, publicada aqui no Guscar, em junho, já foi dito que ele deu lugar a um clone do recém-reestilizado Santana, da Volkswagen (as duas integravam a Autolatina, criada em 1987), e não a um autêntico Ford. Era a contrapartida pelo médio Ford Verona ter gerado um gêmeo para a VW, o Apollo. E assim nasceu o Versailles, que estaria completando 25 anos se ainda fosse fabricado (provavelmente teria outra geração e plataforma) e 20 anos de fim de produção.




O nome Versailles não só fazia uma homenagem ao palácio do reino francês (a Ford queria continuar associando o seu sedã médio à realeza, como o Del Rey), como também já tinha batizado a versão intermediária da segunda geração do Ford Vedette nos anos 1950, que virou o Simca Chambord. Na Argentina foi chamado de Galaxy.

A Ford preferia um projeto próprio e isso gerou o primeiro atrito com a Volkswagen, que mandava na Autolatina. Além de não ser um Ford original, o Versailles já nasceu em desvantagem. Tinha um acabamento mais simples e detalhes estéticos mais antiquados que o Santana, com quem dividia a linha de montagem na fábrica de São Bernardo do Campo. A justificativa é que ele era mais clássico e destinado a um público mais sofisticado.


VW Santana - A matriz do Versailles

Por fora, tinha a coluna traseira em preto fosco, lanternas em forma de trapézio e grade mais fechada, com faróis também trapezoidais. Por dentro, não possuía apoio de braço no banco traseiro, mas, em compensação, o estofamento era mais macio, inclusive nos bancos da frente. Os instrumentos tinham iluminação verde, enquanto no Santana era alaranjada. Foi lançado em duas versões de acabamento, com três opções de motorização: GL 1.8 e 2.0 e Ghia 2.0, com ou sem injeção eletrônica.


Fotos: Marco de Bari, da revista Quatro Rodas, que morreu na última semana em São Paulo, vítima da queda de uma estrutura no estúdio fotográfico, à serviço da mesma Quatro Rodas. Fica aqui a homenagem do Guscar ao seu trabalho. 

Ambos os propulsores eram da série AP, da Volkswagen, também usados no Santana. O 2.0 com injeção eletrônica rendia 125 cavalos de potência. Sem a moderna alimentação, a potência era de 105 cavalos. O 1.8 tinha 92 cavalos, com carburador. O câmbio podia ser manual de cinco marchas ou automático de três (aliás, ele vinha do velho Del Rey).


O GL trazia apenas calotas e vidros verdes como equipamento de série. Já o Ghia vinha com rodas de alumínio, ar condicionado, direção hidráulica, trio elétrico e rádio/toca-fitas. Apesar das críticas, o Versailles era considerado um carro confortável e espaçoso (tinha 4,57m de comprimento, 1,68m de largura e 2,55m de distância entre-eixos). 

O Versailles chegou ao mercado em agosto de 1991. Em julho, como pré-estreia publicitária, foi leiloado de forma beneficente em uma campanha do tipo Criança Esperança, da Rede Globo, que comemorava o aniversário de 25 Anos dos Trapalhões.

Versailles GL / Foto: Claudio Larangeira (Revista Quatro Rodas)

Como o Santana, começou a ser vendido com apenas duas portas. Somente na virada para 1992, ele ganhou a de quatro, junto com os freios ABS. Naquele ano, o motor também ganhou catalisador no escapamento, E foi lançada a perua Royale, também com nome sugerindo realeza, injustamente oferecida por muito tempo apenas com as portas dianteiras, como a sua antecessora Belina. A estratégia era não atrapalhar as vendas da Quantum. A tática errada se repetiu nos clones Verona/Logus e Escort/Pointer.




Em 1994, toda a linha passou a ter o motor com injeção eletrônica. A potência do 1.8 subiu para 99 cv, mas o 2.0 perdeu o tipo multipoint e, com singlepoint, ficou com 112 cv. Vale lembrar que o motor era VW, mas a injeção eletrônica vinha da Ford.

No ano seguinte, a grade dianteira deixou de ser inteiriça para ganhar uma abertura oval, marca registrada da Ford naquela época. Outra mudança foi o aplique na traseira na cor da carroceria, preenchendo aquele espaço entre as lanternas e a placa e tirando o friso refletor vermelho acima delas, que ficaram mais vermelhas. Na lateral, a pintura preta da coluna desapareceu e o deixou ainda mais parecido com o Santana. Principalmente depois que ficou somente com a carroceria de quatro portas, que já começavam a ganhar a preferência do comprador brasileiro.

Por dentro, um novo volante. O lado ruim é que o ar condicionado e o rádio passaram a ser opcionais mesmo na versão Ghia. E o câmbio automático foi retirado do catálogo. Em compensação, entraram o CD/Player e o teto solar elétrico, também cobrados à parte.


A reestilização parcial foi a primeira medida para retomar a liberdade perdida com o conturbado casamento da Autolatina com a VW, que tinha acabado em abril daquele ano de 1995. Outra atitude para sacudir a poeira foi lançar a tão esperada Royale de quatro portas, também ficando igual à Quantum.

Mas a linha Versailles/Royale não conseguiu dar a volta por cima e saiu de linha em 1996, pois, além da estratégia errada da Autolatina e a preferência do mercado pelo Santana/Quantum, o sedã médio já tinha perdido o status de top de linha para o Mondeo e o Taurus, importados da Bélgica e dos Estados Unidos, respectivamente.



Nem os taxistas salvaram o sucessor do Del Rey, já que deram mais preferência ao autêntico Santana e o sustentaram até junho de 2006, quando a VW anunciou o fim de sua produção. Por mais uns três ou quatro anos ainda era possível encontrar alguns Santanas e raros Versailles como táxis nas ruas do Rio de Janeiro, mas praticamente todos já foram substituídos por Merivas, Spins e Cobalts da Chevrolet por causa da idade.